Em meio a grande comoção gerada com o anúncio dos cortes nos orçamentos das Instituições Federais de Ensino e as discussões em torno do impacto que estes cortes irão gerar nas Universidades, a Universidade Federal de Pelotas recebe mais uma notícia que põe em risco o trabalho que vem sendo desenvolvido para fomentar as pesquisas que estão sendo realizadas na Instituição.

A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) informou nesta quarta-feira (8) a suspensão de bolsas de mestrado e doutorado que já estavam previstas para fomentar as novas pesquisas de ingressantes na pós-graduação em 2019.

O pró-reitor de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação da UFPel, Flávio Demarco, recebeu o anúncio ainda na tarde da quarta-feira, pela imprensa, enquanto participava do Encontro Regional do Fórum Nacional de Pró-Reitores de Pesquisa e Pós-Graduação (Foprop), do qual o pró-reitor é coordenador. A reunião, que aconteceu em Porto Alegre, tratou da avaliação dos cursos pela Capes.

Inicialmente, já foram retomadas três bolsas de mestrado, dez de doutorado, quatro de pós-doutorado e duas do Proex, totalizando 19 bolsas. Entre as dez de doutorado, quatro são de estudantes que fazem o doutorado sanduíche fora do país e por isso não as recebem no momento, mas que deveriam voltar a receber no retorno e agora correm o risco de ficar sem o benefício mesmo ainda durante o curso.

Demarco informa que desde 2016 a UFPel adotou uma maior celeridade na redistribuição de bolsas com o objetivo que elas não ficassem disponíveis por muito tempo no sistema. De acordo com o pró-reitor, o sistema da Capes ficou suspenso desde a semana passada e as bolsas que eram ofertadas aos pesquisadores que defenderam suas teses e dissertações neste intervalo foram retidas. Desta forma, ao contrário do que está sendo divulgado, as bolsas bloqueadas não estavam ociosas, elas seriam imediatamente destinadas aos pesquisadores que ingressaram nos programas de pós-graduação em 2019.

Outras preocupações

Flávio Demarco acena para a possibilidade de mais cortes na pós-graduação, tendo em vista que o sistema ainda está fechado e, em paralelo, outros atrasos e cortes podem ocorrer. Os Projetos Institucionais de Internacionalização da Capes (PrInt), por exemplo, que recebem R$ 17,5 milhões em quatro anos para fomento de importantes pesquisas, principalmente nas áreas de saúde e alimentos, poderão ter 85% deste valor cortado, considerando que esta porcentagem é destinada às bolsas.  O PrInt foi concebido para desenvolver e implementar a internacionalização das áreas de conhecimento escolhidas pelas instituições selecionadas, estimulando a formação de redes de pesquisas internacionais.

Além disso, o valor de R$ 1,244 milhão atribuído ao Programa de Apoio à Pós-Graduação (Proap) em 2019, ainda não foi encaminhado para Universidade o que, segundo o pró-reitor, se constitui em um atraso de recursos que não havia ocorrido nos anos anteriores. O Proap tem por objetivo financiar as atividades dos cursos de pós-graduação, proporcionando melhores condições para a formação dos estudantes.

Impactos

Nas últimas décadas o Brasil atingiu uma posição de destaque no cenário mundial no desenvolvimento de pesquisas. Flávio Demarco aponta a importância destas pesquisas que se refletem, de forma resumida, em políticas públicas que melhoram a qualidade de vida das pessoas, bem como o desenvolvimento de produtos e tecnologias que geram empregos e renda para o País. “Num contexto de crise econômica, os investimentos em educação, ciência e tecnologia se consolidam como um caminho efetivo de oportunidades de saída da crise e crescimento futuro”, afirma.

Na contramão, os cortes anunciados não terão consequências apenas no presente, mas também no futuro. Na Região Sul, as Universidades e Institutos Federais contribuem com conhecimento científico e tecnológico que produzem avanços econômicos para o Brasil.

Mais precisamente na UFPel, pesquisas na área de saúde, por exemplo, têm impactado inclusive na saúde de diversos países, como as pesquisas sobre aleitamento materno e curva de crescimento de bebês. A geração de conhecimento promovida pela Universidade tem impacto direto em diversas áreas.  Para Demarco, os recursos destinados às pesquisas não devem ser pautados como gasto, mas como investimento no desenvolvimento do País.